Faleceu dias atrás o grande Jean Giraud, conhecido como Moebius, um dos 
maiores quadrinhistas da minha memória afetiva.  Conheci os desenhos de 
Moebius nas páginas da antiga revista Heavy Metal (que na França se chamava Métal Hurlant), e depois ele começou a pipocar no cinema, ou assinando séries próprias de histórias em quadrinhos.  Meus preferidos são O Incal, com argumento de Alejandro Jodorowski, e A Garagem Hermética de Lewis Carnelian:
 space-operas que correspondem a um conceito proposto por Brian Aldiss, 
“barroco cinemascope” (“widescreen baroque”): tramas calidoscópicas em 
imagens gigantescas, fervilhantes de detalhes que vão do mais 
cientificamente plausível ao mais surrealistamente improvável.  
Paisagens urbanas captadas em alucinantes planos gerais repletos de 
personagens, gadgets, objetos, formas não-identificáveis, uma 
proliferação de detalhes cuja exuberância foi aprendida e expandida por 
outros desenhistas depois dele.  Situações que mesclam folhetim e 
desenho animado, com personagens de romance-de-Legião-Estrangeira 
envolvidos em aventuras intergalácticas.
Moebius foi um 
desenhista capaz de começar uma história mostrando um astronauta numa 
paisagem bizarra... Está perdido... Aproxima-se um veículo... Descem 
três criaturas bizarras (cada uma diferente das outras)... Há um diálogo
 banal de motorista com caroneiro... Vão parar num bordel submarino ou 
num tiro-ao-alvo subterrâneo... E a história vai avançando meio sem 
propósito, meio sem enredo.  Percebemos então (vi depoimentos 
confirmando isso) que Moebius desenhava a história quadro a quadro, sem 
saber o que iria acontecer no quadro seguinte.  Isso dava a essas 
histórias um clima meio philip-k-dickiano, aquela sucessão de pequenos 
espantos diante do insólito, porque o próprio autor está se espantando 
com o que lhe vem à cabeça e à caneta.
Outra obra inesquecível é Les Maitres du Temps
 (1982), desenhado por ele e dirigido por René Laloux, adaptando um 
romance de FC de Stefan Wul chamado, na edição portuguesa da Coleção 
Argonauta, O Vagabundo das Estrelas,
 uma bela história de aventuras e de paradoxo temporal. Moebius tem 
aquele charme indefinível de grande parte da FC francesa, que sabe 
misturar, à imaginação delirante da pulp fiction, questões políticas, 
metafísicas ou filosóficas, coisas que assustam os norte-americanos mas 
os franceses tratam com a naturalidade de quem saboreia um croissant.  
Os franceses (Moebius é simbólico disto) nunca levaram muito a sério a 
colonização da galáxia (que os EUA até hoje creem ser possível).  Para 
Moebius, de maneira exemplar, a FC estava mais próxima de André Breton 
do que de Wernher von Braun.
Braulio Tavares "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB) 
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Não se limitando somente a ilustração de quadrinhos, o 
desenhista colaborou na criação dos personagens de filmes como "O Quinto
 Elemento" de Luc Besson, "Tr0n" de Steven Lisberger, "Alien - O Oitavo 
Passageiro" de de Ridley Scott,  'O Segredo do Abismo' de James 
Cameron, entre outros.
Jean Henri Gaston Giraud completava 74 anos em Maio. Faleceu dia 10 de março 2012.  *(1938-2012)
Abaixo, um pouco da arte de Moebius, pra quem se interessa em viajar, mesmo que sem sair do lugar.
Neobits
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