É era de
gêmeos nos quadrinhos brasileiros. Assim disse a constelação do "New York
Times", cuja lista de gibis mais vendidos foi liderada em março pela HQ
"Daytripper", dos irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon, 34, que publicam
tirinhas na Ilustrada.
O
encadernado, lançado em fevereiro nos EUA, deve ser publicado no Brasil no
segundo semestre pela Panini.
O feito,
somado aos três Eisner Awards (o Oscar dos gibis) recebidos em 2008, consagra
definitivamente os irmãos gêmeos como expoentes do mercado nacional --que
comemora atualmente variedade inédita de títulos, editoras e autores. Mas não
resume a trajetória de esforços nas entrelinhas.
"As
pessoas pensam que toda essa atenção veio do dia para a noite", afirma
Moon. "Mas há anos de carreira antes disso! Não é um mistério e sim um
esforço contínuo."
Deixando
de lado a introdução da história dos rapazes --que narra a infância de dois
irmãos compartilhando gibis e aprendendo juntos a rabiscar-- o primeiro
episódio decisivo é a San Diego Comic-Con de 1997, nos EUA.
Foi a
estreia da dupla na convenção de quadrinhos. Desenhos embaixo do braço e
dólares gastos com avião, hotel e estande. A cena tem se repetido anualmente,
desde então, com insistência e profissionalismo incomuns entre quadrinistas
nacionais.
"O
autor tem de se esforçar", diz Bá. "Vamos a convenções para descobrir
qual é o público e o mercado."
A postura
próxima a leitores, colegas e editores dá pistas da origem da dupla.
"Quando
fazíamos fanzine, entregávamos gibis de mão em mão", diz Moon.
"Tínhamos de convencer as pessoas a experimentar, porque fazíamos um
trabalho diferente, sobre o cotidiano."
Foi
quando eles ficaram conhecidos no mercado nacional como "os gêmeos".
"É
como ser a Monga das HQs", brinca Bá. "É tipo a mulher barbada do circo,
assim as pessoas se lembram da gente", completa Moon.
A escolha de ter o foco no cotidiano, proposta central em "Daytripper", é uma espécie de negação do "mainstream" do gênero, que subentende que quadrinhos têm de ser sobre heróis.
É uma noção que aparece em diversos momentos na conversa com os gêmeos.
"As pessoas que desenham heróis andam juntas, conversam sobre isso", diz Bá. "Nós temos mais afinidade com artistas autorais."
É uma preocupação que também tem a ver com a ambientação da HQ, que se passa em cenários específicos de São Paulo, Salvador e do Rio.
"Queríamos que o gibi se passasse em um local em que nos sentíssemos confortáveis", diz Bá. "Quando artistas nacionais escrevem histórias de super-heróis em Nova York, colocam sotaque brasileiro em uma coisa que tem de ser americana."
Apesar da atenção trazida pelo ranking do "New York Times", em que "Daytripper" superou títulos de peso como "Scott Pilgrim" e "The Walking Dead", a dupla não vê impacto garantido no Brasil.
"Não sabemos se, por ter saído antes no exterior, vai vender mais aqui", diz Moon. "Nosso cotidiano muda muito pouco com isso. Não vamos desenhar mais rápido porque vendemos mais."
E a "importação" da HQ, publicada e louvada antes no exterior, não os preocupa.
"Isso só importa para o público especializado. Para os leitores em geral, tanto faz."
Fonte: Folha.com
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